quarta-feira, novembro 19, 2003
Índios decepcionados com a demora de Lula em ratificar demarcação
Na LUSA: "Um grupo de índios do estado brasileiro de Roraima está decepcionado com a demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ratificar a demarcação das suas terras, declarou hoje em Lisboa o missionário Jorge Dal Ben. "Os povos indígenas da região de Raposa-Serra do Sol estão decepcionados com o presidente Lula, que prometeu aos índios ratificar a demarcação das suas terras (decretada em 1998}, assim que chegasse ao poder, coisa que não ocorreu até o momento", disse Jorge Dal Ben durante uma conferência de imprensa em Lisboa. "O grande receio dos índios é que o presidente Lula seja pressionado pelo governo local, que é frontalmente contra a demarcação das terras indígenas em Raposa-Serra do Sol", declarou o padre. "Os índios também temem que para aprovar as suas reformas no Congresso, o presidente Lula negoceie a redução da reserva em troca de apoio político", acrescentou o missionário. O padre italiano, missionário da Consolata, trabalha com os índios do Estado de Roraima, no Norte do Brasil, há cerca de 35 anos e está na Europa para sensibilizar a sociedade para o problema das terras indígenas no Brasil. Em Portugal, o missionário fará palestras hoje na Igreja de Massamá, próximo de Lisboa, quinta-feira na Câmara de Leiria, no dia seguinte em Águas Santas (arredores do Porto}, e no domingo em Fátima e Vidigal, região de Leiria. "A campanha pela legalização da Raposa-Serra do Sol, intitulada `Unidos pela vida, contra a violência e a impunidade ', foi lançada em Janeiro, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre", disse. (...) Jorge Dal Ben veio acompanhado do índio Dionito de Souza Makuxi, que permaneceu durante duas semanas na Europa para participar num congresso em Itália e também ajudar na campanha. O missionário já visitou a Alemanha, Itália e França, devendo passar ainda pela Espanha, Inglaterra e Holanda. "Se o tempo nos permitir, poderemos realizar o nosso trabalho ainda na Suíça e na Áustria", complementou Dal Ben. O padre italiano declarou que os índios precisam das terras legalizadas para dar continuidade aos seus projectos "sem medo de serem novamente invadidos por garimpeiros e fazendeiros". "Os índios desta área são independentes, têm escolas, transportes próprios, agentes de saúde e vários projectos, inclusive económicos. Em regime comunitário, mantêm 40 mil cabeças de gado em toda a região", declarou. "As tribos têm conseguido progressos de forma equilibrada, mantendo um estilo de vida próprio, baseado no regime comunitário, respeitando os seus valores culturais e os recursos naturais, além de tentarem recuperar o que foi estragado pelas mãos dos brancos", complementou. A região da Raposa-Serra do Sol está encravada entre a Guiana e a Venezuela. As tribos indígenas que habitam a área - cerca de 15 mil indígenas - são os Makuxi, Wapixana, Ingarikó, Taurepang e Patamona, que travam há 30 anos uma luta pela demarcação das suas terras. A área é organizada administrativamente pelas comunidades de quatro zonas, denominadas "regiões", e que são nomeadamente Raposa, Surumu, Baixo Cotingo e Serras. As regiões são coordenadas por conselhos regionais autónomos, articulando-se entre si e com o Conselho Indígena de Roraima (CIR)."
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