"Muito combativos, os índios mapuche resistiram primeiro aos incas, depois à Espanha e desde o século XIX à oligarquia chilena
Uma nação é um conjunto de indivíduos ligados por uma comunhão de cultura e tradições, uma história, às vezes pela raça ou a língua, mas quase sempre por uma ligação forte a uma terra. É o que são os mapuche, uma palavra feita de duas, "mapu", que é terra, e "che", que é homem, que segundo o censo de 2002 serão 604.349 pessoas, ou 87 por cento da população originária chilena, organizados nas comunidades huenteche, huiliche, labfquenche, nagche e peahuenche, espalhadas pelas províncias de Bío Bío, Cautin, Malleco, Osorno e Valdívia, situadas na extremidade meridional do Chile, e puelche, esta na vizinha Argentina. Cerca de 30 por cento vive na região da Araucanía.
O combate que estes "primeiros guerrilheiros da América Latina", como lhes chamou Luís Sepúlveda, travam pela sua terra tem séculos. Muito combativos, resistiram aos incas, depois à Espanha e desde o século XIX à oligarquia chilena. Em 1641, pelo acordo de Quilin, foram expurgados de 30 milhões de hectares de território, incorporados no Chile colonial, e empurrados para Sul do Bío Bío, o grande rio, uma espécie de no man"s land, fronteira natural.
E nunca mais houve paz, senão por curtos instantes. Habitantes indesejados de solos ricos, viram-nos ocupados pelos militares em 1881. Ao genocídio, a historiografia oficial chilena chama eufemisticamente a "pacificação da Araucanía". Durante o Governo da Frente Popular, entre 1938 e 1941, e o da Unidade Popular, de Salvador Allende, de 1970 a 1973, respiraram fundo. Mas em 1974, a ditadura militar de Augusto Pinochet expurgou-os de 300 mil hectares atribuídos pela reforma agrária do regime anterior, para os concederem ou venderem a empresas madeireiras ou mineiras, ou antigos latifundiários.
Em 1999, no pico de uma violenta onda de repressão, o presidente da Corporação Chilena da Madeira, José Ignacio Letamendi, declarava categoricamente: "Sob nenhum pretexto, e quaisquer que sejam as circunstâncias, não entregaremos a terra aos mapuche, que são incapazes de a cultivar." (Le Monde Diplomatique, Novembro de 1999)
Já no Chile democrático, os governos da Concertação, formado por democratas-cristãos e socialistas, não fizeram senão modificar a estrutura da propriedade agrária favorecendo a implantação de empresas madeireiras ligadas a capitais internacionais. As leis, mesmo agora com a Presidente socialista Michelle Bachelet, desconhecem no essencial a sua realidade e os seus problemas. No trato com os que protestam, os tribunais aplicam a lei antiterrorista de Pinochet e os detidos considerados "terroristas". E a linguagem e os métodos dos carabineiros chilenos continuam a ser os mesmos dos anos de chumbo - tratam-nos por "porcos", "cães", "índios de merda" ou "filhos da puta de índios" (Le Monde Diplomatique), ou atiram a matar como no caso de Matias Quezada." [artigo integral]
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